segunda-feira, 16 de março de 2009

Você tem sede de que?

Gabriel Meneguelli
gabrielmenega@hotmail.com

Eis uma notícia: “A bailarina e cantora Carla Perez agora vai virar atriz”. Primeiramente, bailarina e cantora? Ok, pulamos essa! Na entrevista, a evangélica recém-convertida garante que irá dedicar sua carreira no teatro ao público infantil e que agora, todos poderão conhecer a verdadeira Carla Perez: “mãe de família e serva de Deus”. Questionada sobre seus estudos, Carla revela: “Vixe neguinha! Estou lendo Nelson Rodrigues e ficando horrorizada... Aquele homem escrevia cada coisa!”. O que está acontecendo com o teatro brazuca? Onde estão os verdadeiros talentos? É mesmo necessário colocar Carla Perez em cima dos palcos para atrair público?
Em Juiz de Fora, a oitava edição da Campanha de Popularização do Teatro e da Dança foi realizada e preocupou a Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Juiz de Fora – APAC/JF. Neste ano, o número de pessoas que compareceram aos espetáculos não bateu o recorde de público, como era esperado. Aliás, não chegou nem perto. Em 2008, totalizaram-se 15 mil pessoas. Em 2009, apenas 7.500 juizforanos assistiram às peças. Dura realidade.
Em horas dedicadas aos sites de relacionamento, aos programas de conversas instantâneas, aos jogos e simuladores ultra-reais, onde foi parar o gosto de nossas crianças pela contagiante alegria dos palcos? É necessário que as instituições de ensino estimulem desde cedo nos alunos a apreciação pela arte, seja a literatura, a música, a dança ou, o teatro. O hábito de ir ao teatro e valorizar a dramaturgia também deve ser aplicada nas salas de aula. O contato com as linguagens teatrais ajuda crianças e adolescentes a perder continuamente a timidez, lidar com o improviso, desenvolver a noção do trabalho em grupo e a se interessar por textos e autores. Salve Nelson Rodrigues!
Já dizia Arnaldo Antunes: “A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”. Será?

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