quinta-feira, 18 de junho de 2009

Futebol de cinco

Modalidade pioneira na cidade leva bem estar a portadores de deficiência visual

Juliana Araújo
ju_oaraujo@hotmail.com


Carlos Cristiano passa para Tiago Liparini que toca para Bruno Fernando que ouve com atenção o chamador. No meio do campo estão Sebastião Natal e Felipe Marques ansiosos a espera do sim para o chute do treinador Leonardo de Souza. Nos gols estão os estagiários de educação física, Rafael Rossi e Daniel Castilho defendendo e auxiliando o time verde e o grupo azul. Max Rogers corre para alcançar a bola que vai na direção do gol do adversário, mas José Luiz faz um drible e alcança o outro jogador. Mas bem próximo à trave está José Augusto pronto para receber a bola do amigo e fazer então o lance mais esperado da partida, o gol. Todos em campo para vencer o mesmo obstáculo: romper as barreiras da deficiência visual.

Que esporte é este? É o Futebol de Cinco ou Futebol de Cegos. Diferente no nome, diferente no perfil dos jogadores, mas tudo baseado no tradicional futsal. O esporte nasceu em fevereiro do ano passado a pedido dos próprios portadores de deficiência visual que frequentam a Associação dos Cegos de Juiz de Fora. A solicitação foi encaminhada à Secretaria de Esporte e Lazer da cidade, onde uma parceria foi realizada.

O responsável por este projeto, Visão no Esporte é o profissional de educação física Leonardo de Souza Lima. “Demonstrar que essas pessoas que não possuem a visão têm a capacidade de jogar bola e praticar qualquer outro esporte é o que nos faz trabalhar cada vez mais com a causa. Aqui somos um grupo só e com um único objetivo, transformar as dificuldades em vitórias”, ressalta Leonardo. Segundo o treinador é gratificante fazer este trabalho no qual as mudanças não ocorrem somente para os deficientes visuais, mas para toda a família e amigos que incentivam e torcem para que o esporte se torne um caminho de vida nova e sem preconceitos. Uma das funções do Futebol de Cinco de acordo com Leonardo é dar força, resistência e estimular os mais novos a participarem também. ‘’Hoje a participação das crianças com deficiência visual é tardia e queremos modificar isso com projetos como esse”, acresentou.

Bem estar é o que sente o portador da cegueira e também atleta do projeto, Bruno Fernandes, 24. “Sempre gostei de jogar futebol, mas não tinha na cidade um programa que me desse a oportunidade de realizar esse sonho. Quando comecei a frequentar a Associação fiquei sabendo do Futebol de Cinco que estava começando e então nem pensei duas vezes”, explica emocionado. Bruno divide seu tempo também com os teclados. O jogador toca na igreja Casa da Benção no bairro Santa Cruz e informou que se sente feliz em poder fazer o que gosta: a música e o futebol. José Augusto Andrade, 35, também faz parte desse time e se orgulha em poder compartilhar com os amigos que fez no futebol sua felicidade. “O futebol estimula meu físico assim como o atletismo e o goaball que também pratico lá na Associação”, informa Andrade.

Essa possibilidade de crescer e vivenciar experiências novas também é compartilhada pelos estagiários de educação física, Daniel Castilho e Rafael Rossi. De acordo com Rafael, a oportunidade de ampliar o currículo e completar as horas exigidas pela instituição de ensino apareceu em boa hora e fez sua vida conhecer novas realidades. “Ainda não tinha vivido algo parecido como aqui. Quando cheguei vi que se tratavam de pessoas comuns que possuíam apenas uma deficiência que não atrapalha em nada a vida deles. Jogam como qualquer outra pessoa que goste de bola e futebol”.


Intercâmbio


A evolução do time e os contatos feitos pelo professor Leonardo possibilitou um intercâmbio na cidade do Rio de Janeiro. ‘’No final deste mês iremos para o Rio jogar com o time do Instituto Benjamim Constant. Uma parceria que gostaríamos que desse certo e rendessem muitas outras”. Os jogadores estão ansiosos para a partida e treinam muito para vencer a partida. “Estamos jogando muito para defender o nome da nossa cidade. Mais que isso, queremos conhecer gente nova e dividir nossas experiências com eles”, ressaltou o jogador Tiago Liparini.

Segundo o treinador, a equipe precisa de apoio e patrocinadores. Uniformes é um dos materiais que mais necessitam e por isso pede a ajuda de pessoas que tenham a vontade de abraçar a causa. A colaboração pode ser feita na própria Associação dos Cegos.


Regras


A modalidade possui em campo cinco jogadores por equipe. Todos eles portadores de deficiência visual. O tempo de jogo também é o mesmo que no futsal, dois de 20 minutos. No gol ficam os jogadores com visão total. O treinador Leonardo explica que para jogar este esporte os goleiros precisam ter a visão para que se tornem uma orientação para os jogadores. “Através de chamados ele vai orientando os atletas para que chutem a bola em direção ao gol. Por isso o silêncio é essencial nos jogos”, ressaltou. Leo, como é conhecido por todos, explica que a bola também é adaptada para a partida. Contendo guizos em seu interior os jogadores conseguem saber em qual direção a bola está indo. Dentro do campo também jogam aqueles que possuem uma visão parcial. De acordo com Leo, “dividimos os jogadores em três categorias. A classe B1 são aqueles que não possuem nenhuma visão. B2 e B3 são os cegos de baixa visão que conseguem enxergar alguma coisa e por isso utilizam vendas para os olhos para que não haja nenhum problema de erros e fraudes no jogo”.

Segundo Leonardo, o esporte ainda é pouco divulgado e poucas pessoas praticam. Por isso para participar dessa equipe a pessoa pode procurar a Secretaria de Esporte e Lazer que fica na Avenida Rui Barbosa, 530 no bairro Santa Terezinha ou pelo telefone (32) 3690-7844. O interessado pode entrar em contato com a Associação dos Cegos na Avenida dos Andradas, 455 no centro da cidade e também no (32) 2101-2450.


Associação dos Cegos: Link: www.acegosjf.com.br
Instituto Benjamim Constant.Link: www.ibc.gov.br

Um comentário:

Anônimo disse...

Existe um erro nas regras!!!

O tempo de jogo é de 25 minutos e não de 20 minutos, prefazendo um total de 50 minutos de jogo e não de 40.