quarta-feira, 17 de junho de 2009

A “liberdade” virtual

Ana Oliveira
Aninhascorpions@yahoo.com.br

“O mundo é um tabuleiro de xadrez, as peças são os Fenômenos da Natureza e as regras são as Leis do Universo. Estamos jogando, e o jogador do outro lado está oculto dentro de nós.” (Thomas Huxley).

Basta um click e lá está ele. Um mundo virtual existe sim. Criado e mantido pela rede mundial de computadores, local esse que nos permite obter informações e facilitar a comunicação. Entretanto, ainda continuamos vivendo no mundo real, lugar onde se tem cheiros e tudo pode ser tocado. O virtual, vale lembrar, é um mundo efêmero, onde permanecemos por algum tempo, enquanto procuramos os elementos que serão utilizados na vida prática. Um ponto porém é preciso admitir, hoje um não vive mais sem o outro.

O desejo de auto-afirmação no mundo virtual emana diretamente da não popularidade no mundo real. Aquela criatura que não tem amigos, nem mulheres, de forma comum ilustrada pela figura feia nos padrões reais, descobriu que na Internet pode ser alguém respeitada, ter fãs, puxa-sacos, enfim, fama.

Blogs, Orkut, Twitter, Facebook, Myspace, Messengers, Second Life e mais uma infinidade de sites proporcionam ao indivíduo uma vida irreal. Os sites de relacionamento permitem que o usuário omita sua identidade. Resultado: há homens que se passam por mulheres, mulheres que fingem ser homens, pessoas com mais de sessenta anos que dizem ter menos de 30, e assim por diante. Há as que estão morando no seu bairro, mas lhe dizem que estão em outra cidade ou mesmo outro país.

Um grande exemplo é o Second Life, a febre da internet altamente contagiosa. Lá se tem a aparência desejada, o chamado avatar, e tudo mais que se poderia estar fazendo na vida real se não estivesse jogando. Mas para poder participar disso tudo é preciso dinheiro. O Liden, o dinheiro virtual no Second Life, o qual passou a ter ares de moeda de verdade. Com ele é possível melhorar o visual, ter uma profissão, comprar terrenos, construir prédios e objetos. Fazer compras, ir a shows, namorar, casar e até ter filhos. O jogo permite aos jogadores conectados viverem literalmente uma segunda vida.

Os jogadores interagem em lugares variados que parecem o mundo real: há bares, restaurantes, praias, boates e réplicas de algumas cidades. Essa vida de faz de conta não faz mal, é até divertida e favorece a criatividade, desde que não roube de maneira exacerbada o tempo da vida real.

Mas aí é que mora o imenso perigo. Qual é o limite entre o viver real e o virtual? Quando não vivemos o nosso “presente”, o nosso “hoje”, e preferimos uma outra “história”, uma vida paralela, fictícia, é um claro sintoma de imaturidade emocional, e psíquica.

De forma irônica, estas “vidas” virtuais, num primeiro momento, parecem fazer “tudo possível” ao internauta (se pode ter a idade, o corpo, o temperamento, o passado que desejar). Mas por que com o tempo tornam seus autores reféns de si mesmos? Quando a pessoa tem que ser “ator” ou “atriz” o tempo todo, perde sua personalidade, a única coisa realmente original e única que tem!

Excepcionalmente esta avalanche de “vida” virtual é apenas um sintoma do tédio que a sociedade pós moderna está sofrendo. Mundos virtuais acabam refletindo o mundo real, mas as regras de moralidade não acompanham. Jogamos contra nosso interior e só podemos, portanto, ser vencidos por nós mesmos. A escolha sempre será o grande momento da verdade na vida humana.

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